quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Juízo Final (2006)

Depois de passar horas em frente ao computador, finalmente terminei meu trabalho de Teoria da Literatura. Olhei para o relógio e vi que já era hora de dormir, então fui para cama. Depois de duas horas rolando na cama de um lado para o outro é que fui conseguir dormir.

Acordei empolgada às oito horas da manhã, pois já havia terminado o trabalho, e poderia aproveitar o meu terceiro dia de férias trabalhistas. Olhei pela janela como de costume, para ver como estava o clima, se havia sol, chuva, ou sei lá, qualquer coisa. Achei estranho ainda ser noite, então consultei o relógio, para confirmar as horas, se já era de manhã, ou se ainda era de madrugada. A hora estava correta. Quando voltei a olhar para o céu, bolas de fogo começaram a cair. Pensei: - Estou louca! Esfreguei os olhos para ter certeza de que não era loucura. Infelizmente, eu não estava louca. Poderia estar dormindo, então dei tapas em meu rosto para acordar, mas eu já estava acordada, e só me trouxe dor.

Voltei a olhar para a rua, e bolas de fogo caiam do céu. Só em meu pátio, pelo menos oito haviam caído. Minha vizinha que todas as manhãs saía para passear com os seus cães estava voltando para casa, quando uma dessas bolas atingiu sua cabeça. Outros vizinhos ficaram horrorizados e saíram para a rua com a intenção de ajudá-la, mas era tarde. Seu crânio estava em chamas. Mais pessoas saíram para ver o que havia acontecido, formavam um círculo em volta do corpo estendido na rua, quando uma bola de fogo quinze vezes maior caiu sobre eles, abrindo uma cratera no meio da rua. Ninguém se salvou.

Meu telefone tocou. Era meu pai, pedindo desculpas por tudo que havia feito comigo. Tentou me dizer mais alguma coisa, talvez um aviso. Não pude saber, pois o telefone ficou mudo. Pela janela, gritei a minha vizinha do lado se poderia usar o seu telefone, mas não havia sinal nos telefones. Fiquei desesperada, quase entrei em pânico.

Minha cadela começou a latir para mim, e eu não entendia o que queria. Perguntava angustiada: - O que foi? E ela só latia. Resolvi segui-la. Foi quando caíram em minha sala um anjo e um demônio lutando bravamente. Quando os vi dei um grito. Meu grito distraiu o anjo, que levou uma espadada do demônio, que se voltou para mim com a intenção de me matar. Como um milagre, minha cadela encheu-se de coragem e mordeu a perna do demônio. Era tudo o que o anjo precisava para pegar um martelo embaixo da minha pia da cozinha e acertar a cabeça do infeliz. O golpe foi certeiro. O corpo do demônio sumiu em uma fumaça negra. Fui tentar ajudar o anjo, mas era tarde demais para ele também. E em meio a uma fumaça clara também sumiu.

Como se fossem vozes do além pronunciavam às pessoas: - Larguem tudo o que estão fazendo, e sigam para o campo da UFSC, pois lá serás julgado. Percebi então que era chegado o dia. Não imaginava que chegaria tão cedo, mas obedeci. Troquei de roupa correndo, agarrei a cadela com uma mão, e coloquei-a debaixo do braço, e com a outra mão peguei o trabalho, que havia feito na noite anterior, pois tinha a esperança de encontrar o professor para entregá-lo.

Ao sair de casa, vi que não caiam mais bolas de fogo do céu. Então me pus ao caminho do campo que fica próximo da minha casa. No meio do caminho o chão começou a tremer e a se abrir. Em meio as rachaduras corriam rios de sangue, e as pessoas gritavam desesperadas.

Em meio as turbulências consegui chegar ao campo, onde uma multidão de pessoas eram julgadas. Procurei por conhecidos, mas só encontrava estranhos. Peguei minha senha com um anjo, que já havia pronunciado: - Todos os animais vão para o céu sem passar pelo julgamento. Deixei minha cadela partir e fiquei esperando a minha vez.

Dez horas se passaram, até chegar a minha vez. Neste meio tempo, muitos subiram e outros tantos desceram. Nunca pensei que um dia presenciaria isso, Cristo e o Demônio, sentados lado a lado. Cada qual com um livro na mão. No livro de Cristo, estavam escritos todas as coisas boas que eu fiz na vida, e no livro de Demônio, todas as coisas ruins. Fiquei assustada com a grossura dos livros, e vi que o julgamento seria longo. E quando senti que o Demônio estava levando vantagem, lembrei do filme, “O auto da compadecida”, e pedi interseção a Mãe Santíssima, que por graça divina veio em meu socorro. Depois de um pouco mais de conversa, consegui me livrar do inferno.

Chegando ao céu fui a busca de conhecidos. Encontrei minha cadela, meu namorado e alguns amigos. Contei-lhes o que havia acontecido. Depois de algum tempo, lembrei que não havia encontrado o professor, para entregar o trabalho.

Fui ao encontro de São Pedro para saber se o professor estava no céu. Ele consultou sua lista, e viu que tinha ido para o inferno, onde há choro e ranger de dentes. Na hora fiquei com raiva, pois havia tido tanto trabalho para o professor ir para o inferno, mas me compadeci de sua alma. E minha misericórdia ajudou-o a sair do inferno, de onde seguiu para o purgatório, onde pagaria por seus pecados, que por motivo de sigilo não poderei relatá-los.

Dezessete anos passaram como num piscar de olhos, e muitos conseguiram alcançar o céu neste meio tempo. O professor também conseguiu, e finalmente consegui entregar-lhe meu trabalho.

Com esta sensação de alívio acordei, e vi que tudo não passara de um sonho. Mas como os sonhos muitas vezes nos trazem mensagens, talvez este dia esteja próximo. Só espero que não seja hoje, pois preciso entregar meu trabalho.
Ísis Vieira

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