quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A Sorte Grande (2010)

Doze anos se passaram desde que Francisco foi para a prisão.

Todos os sábados Francisco ia a uma cidade vizinha, que ficava a cerca de 30 km de distância, para comprar os mantimentos para a sua família. Como não tinha carro, nem bicicleta, e os ônibus passavam em apenas dois horários inviáveis, Francisco fazia o caminho a pé com seu carrinho de mão.

Neste sábado Francisco pensou ter tirado a sorte grande, pois quando estava voltando para casa um caminhão que estava passando lhe ofereceu carona, mas se ele soubesse que aquela carona lhe resultaria em doze anos na prisão teria seguido seu caminho a pé.

No meio do caminho havia uma viatura da polícia fazendo uma blitz, pois havia recebido a denúncia de que um caminhão havia sido roubado na noite anterior, e o motorista havia sido levado como refém. Como aquela era uma rodovia com grande circulação de caminhões, a polícia decidiu fazer uma blitz ali também.

Francisco percebeu que o motorista do caminhão, ao avistar a blitz, ficou ansioso e tentou mudar de direção, mas já era tarde e a policia fez com que encostassem. Com armas em punho ordenaram que descessem do caminhão com as mãos para cima. Francisco que nunca havia conversado com um policial na vida ficou apavorado.

Enquanto dois policiais revistavam Francisco e o motorista, outro foi checar a carroceria do caminhão, e no fundo, enrolado em um saco plástico encontrou o corpo de um homem com uma faca cravada em seu peito.

O motorista que havia sido reconhecido pela polícia como ladrão de caminhões e seqüestrador do verdadeiro motorista daquele caminhão, não perdeu tempo e acusou Francisco de mandante e cúmplice do crime.

Doze anos se passaram desde o dia em que Francisco foi mandado para a prisão. Sua família lhe abandonou e seus amigos desapareceram.

Hoje Francisco foi solto, e saiu da prisão decidido a voltar pra casa. Pegou um trem para a cidade vizinha onde morava antes de ser preso. Ao chegar à estação passa em uma banca de jornais, decidido a se atualizar das coisas que aconteceram enquanto estava na prisão. Tira o último cigarro do bolso e antes de acendê-lo se depara com a foto do homem que o colocou na prisão na capa do jornal, com a seguinte manchete: “Prefeito eleito toma posse nesta segunda-feira”. Guarda o cigarro no bolso e rindo agarra o braço de uma mulher que passa e lhe pergunta: “Que lugar é esse? Que lugar é esse?
Ísis Vieira

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