quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A Partida (2010)

Há pelo menos dois anos espero pela minha promoção a capitão do exercito brasileiro, e esse dia finalmente chegou. É hoje! Mas com a promoção vem a missão, coordenar um grupo de militares no Haiti. Um ano terei de passar fora de casa. Acredito na causa, mas esta partida não veio em um bom momento.

Cheguei em casa mais cedo para arrumar minhas coisas para a partida de amanhã. Como esta seria minha última noite no Brasil, decidi preparar um jantar romântico para minha noiva, para comemorar minha promoção, além de tornar a noite de despedida especial. Antes passei no florista e comprei um buquê de lírios cor-de-rosa, que são as flores preferidas dela.

Durante o jantar contei-lhe da promoção, e antes de anunciar que partiria na manhã seguinte, falou agitada, de tanta felicidade, todos os planos que tinha para o nosso casamento, que aconteceria em três meses, como essa promoção veio em um bom momento e o quanto ajudaria financeiramente nosso casamento. Mesmo sem querer deixá-la triste, precisei dar o restante da notícia. Seu rosto murchou na hora. Perguntou-me se não poderia adiar esta viagem, já que nosso casamento estava tão próximo. Respondi que não, e um lado que eu não conhecia nela aflorou. Seus olhos brilhavam como fogo de tanta raiva. Jogou a taça de vinho que tinha na mão contra mim. Tentei acalmá-la dizendo que não desistiria do casamento, pois ele seria apenas adiado por alguns meses, que um ano passa muito rápido e logo estaria de volta para casar e passar o resto de minha vida ao seu lado. Mas ela foi impassível. Disse que eu tinha até o café da manhã para mudar de idéia. Caso contrário, ela partiria naquela manhã e eu nunca mais a veria.

Na manhã seguinte levantei cedo, preparei o café, fervi o leite e a esperei levantar. Quando ela veio para o café, viu minha mala pronta ao lado da porta. Sentou a mesa, e encheu uma xícara com café e leite. Sem me olhar ou dirigir qualquer palavra, pegou o jornal e abriu como um muro entre nós. Acendeu um cigarro e soltou anéis de fumaça no ar. Levantou, vestiu a capa que eu dei, abriu a porta e partiu na chuva para eu nunca mais vê-la, pois tudo o que queria era me fazer chorar.
Ísis Vieira

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